BAUMAN E ORGANIZAÇÃO
Zigmunt Balman |
Quando falávamos sobre organização, na sua recentíssima visita à Salvador, minha cunhada super culta prometeu compartilhar um trecho do livro O MAL-ESTAR DA PÓS-MODERNIDADE tratando do tema. Fiquei curiosa. E ela cumpriu. Zigmunt Balman, sociólogo e filósofo polonês, fala do assunto citando a antropóloga britânica Mary Douglas. Segue o trecho.
Talvez ninguém explicasse melhor do que se ocupa todo esse rebuliço em torno da pureza e de combate à sujeira do que a grande antropóloga britânica Mary Douglas, em seu surpreendente livro Purity and Danger (publicado pela primeira vez em 1966). A sujeira, sugeriu Douglas,
é essencialmente desordem. Não há nenhuma coisa que seja sujeira absoluta. Ela existe ao olhar do observador. (...) A sujeira transgride a ordem. Eliminá-la não é um movimento negativo, mas um esforço positivo para organizar o ambiente. (...)
Ao perseguir a sujeita, forrar, decorar, arrumar, não estamos dominados pela angústia de fugir à doença, mas estamos, decididamente, reorganizando o nosso ambiente, adaptando-o a uma idéia. Não há nada de temível ou irracional em evitarmos a sujeira: é um movimento criativo, uma tentativa de relacionar a forma com a função, de dar unidade à experiência. (...)
Para concluir, se o desasseio é uma coisa inapropriada, devemos atacá-lo através da ordem. O desasseio ou a sujeira é o que não deve ser incluído se o padrão precisa ser mantido.
Conforme a análise de Mary Douglas, o interesse pela pureza e a obsessão com a luta contra a sujeira emergem como características universais dos seres humanos: os modelos de pureza, os padrões a serem conservados mudam de uma época para outra, de uma cultura para outra - mas cada época e cada cultura tem um certo modelo de pureza e um certo padrão ideal a serem mantidos intactos e incólumes às disparidades.
Viram? Quando digo que organização é um assunto sério e transformador, muito poucos acreditam. Felizmente, minha cunhada é uma delas... ❤❤
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