ARQUITETANDO POR AÍ

ARQUITETANDO POR AÍ
O assunto aqui é transformar rotinas engessadas, visando a melhoria da qualidade de vida dos envolvidos. Mas, como assim? Alinhando conhecimentos arquitetônicos a técnicas de organização, espaços residenciais ou comerciais são reestruturados com custo bem inferior ao imaginado. Independente do tamanho da sua necessidade, conheça um pouco dessa história e encontre respostas. Aguardo você...

23/12/2012

SOLIDARIEDADE



Então é NATAL...




A MOÇA DO CARRO AZUL




Era a semana que antecedia o Natal. Os carros entupiam as ruas, todos querendo aproveitar um sinal verde, uma vaga para estacionar, chegar mais cedo ao shopping. Eu era apenas mais uma no trânsito, quase sem olhar para os lados, concentrada em alguma tarefa inadiável. Mas de repente o que era movimento e pressa à minha volta parou.

Estava fazendo o retorno numa grande avenida quando passou por mim um carro azul com uma moça na direção. O vidro dela estava aberto e ela não parecia ter nada a esconder: chorava. Não um choro à toa. Ela chorava por uma dor aguda, uma dor de respeito, era um transbordamento. Passou reto por mim e eu concluí meu retorno, e quis o destino que a próxima sinaleira fechasse e alinhasse nossos dois carros, eu ao volante do meu, atônita, ela ao volante do dela, desmoronando.      

Eu deveria ter ficado na minha, mas era quase Natal, e quase todos estão tão sós, quase ninguém se importa com os outros, e antes que trocasse o sinal, abri a janela do meu co-piloto - sem nenhum co-piloto - e perguntei: "Você precisa de ajuda?".      

Ela estava com a cabeça apoiada no encosto do banco, olhando em frente pro nada, chorando ainda. Então virou a cabeça lentamente para mim - pensei que iria dizer para eu me preocupar com a minha vida - e disse serenamente: "Já vai passar". E quase sorriu.      

Eu respondi "fica bem", fechei o vidro e avancei meu carro um pouquinho pra frente, para desalinhar com o dela e deixá-la livre dos meus olhos e da minha atenção.      

Passei o resto do trajeto tentando adivinhar se ela havia rompido uma relação de amor, se havia perdido um filho recentemente, se havia recebido o diagnóstico de uma doença grave, se havia discutido com o marido, se estava com saudades de alguém, se estava ouvindo uma música que a fazia lembrar de uma época terrível - ou sensacional. O que a fazia chorar quase ao meio-dia, numa avenida tão movimentada, sem nem mesmo colocar óculos escuros ou fechar o vidro? Que desespero era aquele sem pudor e por isso mesmo tão intenso?      

Garota, desculpe invadir com minha voz a sua tristeza. Era quase Natal e eu não aguentei ver você naquele quase deserto, num universo à parte, incompatível com a quase euforia com que recebemos as viradas, as mudanças, a esperança de olhos mais secos. Faz uma semana, lembra? E agora falta quase nada pra gente abraçar a ilusão de que tudo vai ser novo. Que seja mesmo, especialmente pra você. Feliz 2006.



Martha Medeiros - Jornal Zero Hora - 28/12/2005
 
 
 
Diante dos recentes dias caóticos que temos vivido individualmente, nada mais possível de presenciar que a cena descrita por Martha, há exatos sete anos. Ficção ou verdade? Nunca saberemos! São os finais de mundo particulares. Passado o dia 21/12/12, declarei à uma amiga muito especial não acreditar em final com data marcada. Na verdade, são tantos os "finais de mundo" que enfrentamos ao longo da vida, quando não temos outra alternativa senão reconstrui-los o mais rápido possível, que caso isso venha a acontecer, será devastador, rápido e, acima de tudo, surpreendente. Às vésperas do NATAL, testemunha de vários "finais de mundo" alheios recentes, uma dúvida continuará a incomodar: qual a razão do espírito natalino aflorar, para a grande maioria, só nessa época do ano? Acreditando que viver sempre será um trabalho de equipe, imagino como poderíamos transformar as nossas rotinas distribuindo esse "espírito", hoje concentrado em apenas um mês, ao longo do ano. Estar atento ao outro, pode ser um bom começo nessa importante REORGANIZAÇÃO....
 
 
 
 
Fonte imagem - INTERNET

2 comentários:

  1. Blog maravilhoso! Nunca perco a publicação dos domingos. Só que essa última não tinha tido tempo de ver. Que presente! Estava me sentindo como a moça do carro azul. E tudo que precisava, nesse momento, era alguém para me perguntar se eu preciso de ajuda. E essa publicação enxeu-me de alegria e esperança. Muito, muito, obrigada. Feliz Natal!

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    1. Essas anônimas são muito especiais!!! Temos que agradecer à Martha Medeiros. Quem mais seria capaz de captar ESSE espírito do Natal??? "Só acaba, quando acaba..." Por isso, SEMPRE existirá uma esperança. Sugiro que passe esse sentimento adiante... Bjs

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